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Ano novo, tudo de novo

Por: Jolivaldo Freitas

 

– Você foi bem nas festas de ano novo?

– Vá saber!

– Então essa tristeza na cara?

– Já comecei mal, pra falar a verdade!

– Mas 2018 nem bem começou…

– Pra você ver. Logo na madrugada de 31 de dezembro para o dia primeiro de janeiro já pisei no rabo do demônio.

– Mas, como, não entendi!

– Decidi que ia para a Festa da Virada, lá no antigo Aeroclube, ver os fogos, ouvir umas músicas, mas logo depois da chegada do ano novo, minutos após a queima de fogos parei na praia da Boca do Rio, dei sete pulinhos em sete ondas, pedi proteção a Iemanjá e fiz minhas promessas para 2018. Levei no bolso uma lista completa para não esquecer nada. Depois saí do mar e procurei minha pochete. Sumiu. Rodei tudo, olhei cada palmo de areia e nada. E lá não tinha esse dinheiro todo, você sabe que o emprego é mais um bico que outra coisa, mas… e meus documentos?

– Rapaz, começou mal!

– Pois é. Com uns trocados que estavam no bolso da bermuda branca que uso todos os anos deu para comer um cachorro-quente e tomar duas latinhas de cerveja. Decidi que não ia me aborrecer logo nas primeiras horas do ano e fiquei ali, bem atrás do mundão de gente que via o show e do nada recebo uma porrada no lombo que era para sair da frente do pessoal da Guarda Municipal. Já sabendo da sanha dos caras engoli a raiva e o a dor e decidi que estava na hora de ir embora.

– Mas, não tinha ocorrido nem uma briga, uma discussão perto de você e os caras confundiram?

– Não! Os homens fardados estavam mesmo emputecidos, talvez por estarem trabalhando enquanto a gente se divertia. Ainda comentei com uma senhora que contrariada com o que vira viera me ajudar a ver como ficou a lapada nas costas: “Na hora que levaram minhas coisas não tinha um para tomar conta..” Ela deu um muxoxo e me disse que não ligasse, que foi bom ter acontecido tudo logo nas primeiras horas do ano, pois com certeza nada de ruim iria acontecer até a chegada de 2019.

– É mesmo!

– Eu até acreditei. Fiz questão de acreditar e fui para o lugar onde deixei o carro com um guardador que me cobrou vinte reais e quando abri a porta e entrei o rapaz da pipoca me disse que um pneu estava murcho. Pedi sua ajuda e trocamos o pneu e dei os dois reais que me sobrara daquilo tudo e disse que não era possível acontecer mais alguma coisa e foi só dar a ré para sair do lugar que cai numa boca de lobo e o cara da pipoca, que era o único por ali já se recusou a me ajudar e dei sorte que descobri um casal dentro de um carro fazendo sei lá o que no escuro e o ruído que vinha chamou minha atenção.

– Nem diga!

– Digo e digo mais. Fiquei com vergonha de bater no vidro e um pouco distante esperei que acabasse a função dentro do carro e com jeito, vergonha e medo que o cara fosse policial e estivesse armado e atirasse achando que era assalto bati com jeito e o cara limpando o embaçado do vidro perguntou o que era e eu pedi ajuda e lá vai o cara de cueca empurrar o carro e consegui tirar, agradeci e fui embora.

– Na primeira dobrada que dei em direção ao antigo Centro de Convenções – aquele que caiu uns pedaços – me deparo com uma blitz da Transalvador.

– Não me diga…

– Vou dizer e acredite. Os caras me pararam e nem pediram documento; melhor, pois só tinha documento do carro e não tinha Carteira de Habilitação que o ladrão levou na pochete, já foram logo colocando o bafômetro na minha boca e lavrando a multa de quase três mil reais. E eu ainda disse com a voz murcha: “só tomei duas latinhas”.

– Não acredito!

– Acredite! Ainda bem que um senhor me emprestou o celular e pedi ajuda para o carro.

– E agora vai tudo bem?

– Que nada! Lembra das minhas resoluções, das promessas de ano novo?

– Sim!

– Já detonei duas. Comi rabada, sarapatel e mocotó a danar e invés de emagrecer já aumentei três quilos. E pior… Lembra da Ritinha?

– Aquela que lhe meteu uns chifres na festa de Natal da empresa?

– Pois é!

– Não me diga…

– Digo. Perdoei e voltei com ela.

– Tomara que tudo se acerte agora.

– Que nada! Já peguei com o cara da Kombi de ovos. Desconfiei de tantos ovos em casa.

– Não diga.

Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br

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