Por que Jesus não seria evangélico se reencarnasse hoje
À luz dos Evangelhos, os valores e práticas de Jesus contrastam fortemente com o comportamento de parte significativa da liderança evangélica contemporânea.

Se Jesus voltasse à Terra hoje, é difícil imaginar que ele se identificaria com muitos dos valores, discursos e práticas das igrejas evangélicas — sobretudo as neopentecostais. Embora o Evangelho seja a base das igrejas cristãs, o comportamento de boa parte dos líderes evangélicos modernos se distancia, em essência, daquilo que Jesus pregou e viveu. Em várias passagens do Novo Testamento, o Cristo histórico mostra-se avesso ao poder, ao dinheiro, ao moralismo hipócrita e à exclusão dos pobres. Elementos que hoje marcam setores expressivos do chamado “mundo evangélico”.
Jesus rejeitava o acúmulo de riquezas- Nos Evangelhos, Jesus é direto:
“Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro.” (Mateus 6:24)
Ele vivia entre os pobres, criticava os ricos (como no encontro com o jovem rico, em Mateus 19:21-24) e denunciava a idolatria do dinheiro. Hoje, porém, muitos pastores acumulam fortunas, andam em jatinhos particulares e vivem como empresários da fé. A chamada “teologia da prosperidade”, tão popular nas igrejas evangélicas atuais, contradiz a essência da mensagem de Cristo, que alertava:
“Ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação.” (Lucas 6:24)
Jesus confrontava os religiosos hipócritas- Jesus reservou suas críticas mais duras aos fariseus e escribas — os religiosos da época que, segundo ele, se preocupavam mais com a aparência e as regras do que com a justiça, a misericórdia e a verdade:
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e intemperança.” (Mateus 23:25)
Hoje, muitos líderes evangélicos fazem o mesmo: julgam as vestes, o comportamento, a orientação sexual e as escolhas individuais das pessoas, mas se mantêm omissos diante da injustiça social e da corrupção — e muitas vezes são cúmplices dela.
Jesus andava com os marginalizados – Jesus não frequentava os palácios nem buscava os holofotes do poder. Preferia os excluídos: prostitutas, cobradores de impostos, leprosos, samaritanos, mulheres. Ele atravessava as fronteiras do preconceito social e religioso. Como afirma em Marcos 2:17:
“Não vim chamar os justos, mas os pecadores.”
Boa parte do discurso evangélico atual, ao contrário, rejeita os marginalizados. Demoniza pobres, LGBTQIAPN+, religiões de matriz africana e qualquer grupo que fuja ao seu padrão moral estreito. Se Jesus estivesse entre nós hoje, muito provavelmente estaria ao lado dos que são atacados por essas igrejas, e não em seus púlpitos.
Jesus não buscava poder político- Jesus recusou-se a ser rei. Fugiu das armadilhas do poder. Disse com clareza:
“Meu Reino não é deste mundo.” (João 18:36)
Enquanto isso, parte das lideranças evangélicas se alia abertamente a projetos de poder político, elegendo candidatos, ocupando cargos públicos, pressionando instituições e promovendo uma agenda autoritária, moralista e excludente.
Jesus, que pregava o amor ao próximo, o perdão e a justiça, seria hoje um incômodo. Seria visto como “comunista”, “esquerdista”, “subversivo” — ou mesmo como um inimigo da religião institucionalizada.
Jesus não seria evangélico se reencarnasse hoje. Sua vida e ensinamentos confrontam diretamente os valores do mercado da fé, do moralismo sem empatia e da aliança entre púlpito e poder. Ele seria mais próximo dos oprimidos que das cúpulas religiosas. Mais presente nas ruas que nos templos. Jesus seria, como sempre foi, a pedra rejeitada pelos construtores — especialmente por aqueles que dizem falar em seu nome, mas negam sua essência.