Fascismo no rock brasileiro: entre palcos, vaia e intolerância
Nos últimos tempos, o rock brasileiro tem sido palco não apenas de guitarras distorcidas e gritos de rebeldia, mas também de conflitos ideológicos e disputas sobre o que significa liberdade de expressão e posicionamento político dentro da música.

O caso mais recente envolve o vocalista Digão, da banda Raimundos, que mandou expulsar um fã durante um show em Fortaleza. O motivo? O fã exibiu uma faixa antifascista — um gesto que, em qualquer cenário democrático, deveria ser considerado legítimo e pacífico. A atitude autoritária de Digão não surpreende quem já acompanha suas declarações há alguns anos, mas ainda assim escancara o paradoxo de um gênero nascido da contestação ser tomado por vozes cada vez mais alinhadas ao reacionarismo.
Enquanto isso, na outra ponta do espectro, o vocalista da banda Iram Nazi tomou uma decisão oposta. Após ser vaiado por gritar “Sem anistia!” durante um show em Santa Catarina — uma referência direta à responsabilização de golpistas e torturadores do regime militar —, o cantor optou por cancelar os shows seguintes no sul do país. A atitude, embora radical, foi um recado claro: há artistas que não estão dispostos a se calar diante do avanço da intolerância e do negacionismo, mesmo que isso custe espaço e cachê.
Esses dois episódios revelam muito sobre o momento político e cultural do Brasil, mas também sobre a crise de identidade do rock nacional. O que antes era símbolo de contestação e questionamento agora abriga, em parte, artistas que rejeitam qualquer forma de pensamento divergente. Enquanto uns querem calar seus próprios fãs, outros são silenciados pelo público que não tolera discursos progressistas.
O rock brasileiro precisa decidir que lado da história quer ocupar. Ser voz da rebeldia contra opressores ou instrumento de sua manutenção? A postura de Digão é o retrato de um conservadorismo disfarçado de liberdade individual. Já a atitude do Iram Nazi escancara a coragem de manter o microfone ligado mesmo diante das vaias.
No fim, talvez a pergunta não seja mais se o rock está morto, mas sim se ele ainda é capaz de incomodar os verdadeiros inimigos da liberdade.