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Arapongagem bolsonarista mirou homônimo de Alexandre de Moraes, revela PF

Relatório final sobre a "Abin paralela" aponta espionagem ilegal contra adversários políticos, ministros do STF e até mesmo um gerente de loja com nome idêntico ao do magistrado. PF indicia 36 aliados de Bolsonaro, incluindo Carlos Bolsonaro e Alexandre Ramagem.

A Polícia Federal identificou mais um episódio alarmante no escândalo de arapongagem bolsonarista envolvendo o uso ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Segundo relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), um homônimo do ministro Alexandre de Moraes foi monitorado de forma clandestina por meio do software espião FirstMile, utilizado pela chamada “Abin paralela”.

O homem espionado — gerente de uma loja de artigos domésticos em São Paulo — teve seus dados acessados em pelo menos três ocasiões, sem qualquer justificativa legal, segundo o documento. “O registro, por exemplo, associado à pesquisa de ‘Alexandre de Moraes Soares’ não apresenta nenhuma justificativa, levando à plausibilidade de terem sido realizadas três pesquisas do homônimo do exmo. ministro relator no dia 18/05/2019”, aponta a PF.

A data coincide com o início da tramitação do inquérito das fake news, relatado por Moraes no STF. A investigação foi instaurada em março de 2019 e, em maio daquele ano, começou a enfrentar reações políticas no Congresso e nas redes bolsonaristas.

O relatório da PF também confirma que o próprio ministro Alexandre de Moraes foi alvo de monitoramentos em momentos estratégicos, como durante votações no plenário do STF que confirmavam a legalidade do inquérito das fake news. “Não bastassem as ações clandestinas direcionadas para atacar o exmo. ministro relator em razão de suas funções, foram identificadas outras referências ao ministro com indicativo de violência, bem como ações relacionadas a tentativa de impeachment”, detalha o texto.

A estrutura paralela da Abin também teria sido usada para proteger os filhos de Bolsonaro em processos judiciais, atacar o sistema eleitoral e disseminar desinformação com fins políticos.

No último dia 12, a PF entregou o relatório final ao STF com o indiciamento de 36 pessoas. Entre elas, estão o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal e ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem (PL-RJ), e o delegado Luiz Fernando Corrêa, atual chefe da agência.

Embora Jair Bolsonaro não tenha sido formalmente indiciado, a PF o identifica como parte do núcleo político da organização criminosa. Segundo os investigadores, esse núcleo “era o centro decisório e o principal beneficiário das vantagens ilícitas, como manutenção no poder e ataque a adversários”.

A apuração confirma que a chamada “Abin paralela” foi usada como ferramenta de espionagem estatal a serviço de interesses pessoais e políticos do ex-presidente e seu círculo mais próximo, violando o Estado de Direito e as garantias democráticas.

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