Economia

Sobretaxa dos EUA ameaça exportações e empregos em setores estratégicos da indústria brasileir

Representantes da indústria alertam governo federal sobre risco imediato de colapso em segmentos como máquinas, calçados, aço, alumínio e aviação. Setores defendem adiamento da medida para buscar acordo com os Estados Unidos.

A reunião entre representantes da indústria brasileira e o governo federal, realizada na última terça-feira (15), escancarou o estado de alerta de diversos setores produtivos diante da sobretaxa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos do Brasil. A medida, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, ameaça exportações estratégicas e pode causar o fechamento de milhares de postos de trabalho, principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste.

Durante o encontro com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, seis setores foram categóricos em afirmar que não há possibilidade de redirecionamento das vendas para outros mercados no curto ou médio prazo. As associações alegam que a alta dependência tecnológica e os contratos personalizados com clientes norte-americanos tornam inviável a substituição imediata do mercado dos EUA.

A Abimaq, que representa a indústria de máquinas e equipamentos, destacou que metade das exportações de alta tecnologia vão para os Estados Unidos, o que corresponde a US$ 4 bilhões por ano. A Abicalçados alertou que 22% das exportações do setor são voltadas ao mercado americano, e já há registro de cancelamentos de pedidos. A estimativa é de perda de 12 mil empregos diretos e indiretos.

No setor de ferro gusa, 85% das exportações têm como destino os EUA, enquanto o setor de autopeças, representado pelo Sindipeças, destacou a total integração com o mercado americano. A indústria moveleira, por meio da Abimóvel, afirmou que 27% das exportações são feitas sob encomenda para os Estados Unidos e que a sobretaxa favoreceria a concorrência chinesa. A Abrafi também alertou sobre o risco de perda de mercado nas exportações de ferroligas, 20% das quais vão para os EUA.

Outras entidades também manifestaram preocupação: a Abimci apontou a dependência da indústria madeireira do setor de construção civil americano; o Instituto Aço Brasil lembrou que o país é o segundo maior exportador de aço para os EUA; e a Abal relatou queda de 25% nas exportações de alumínio apenas no primeiro semestre, com tarifas já em vigor.

Um caso emblemático é o da Embraer, que declarou ser insustentável operar com a nova tarifa. A empresa exporta 30% de sua receita para os Estados Unidos e afirmou que não há alternativas viáveis para redirecionar sua produção, tanto por limitações técnicas quanto comerciais. A fabricante também destacou que 45% dos componentes de seus aviões vêm do mercado americano, demonstrando a profunda interdependência entre as duas indústrias.

Diante da gravidade do cenário, todos os setores presentes apoiaram a proposta da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para que o Brasil solicite formalmente aos EUA o adiamento da entrada em vigor da sobretaxa por 90 dias. O objetivo é abrir espaço para uma negociação que evite prejuízos irreversíveis à economia brasileira.

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