Governo Lula vê lobby de big techs e bandeiras de cartão por trás de ofensiva dos EUA contra o Pix
Popularidade e eficiência do sistema brasileiro de pagamentos instantâneos incomodam empresas americanas e acendem alerta sobre perda de influência global dos EUA, dizem especialistas e aliados do Planalto.

Aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmam que há um forte lobby de empresas norte-americanas por trás da pressão dos Estados Unidos contra o Pix, sistema brasileiro de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central em 2020. A ofensiva faz parte de uma investigação comercial iniciada ainda na gestão Donald Trump e aponta o Pix como uma suposta prática desleal de concorrência em serviços financeiros.
Segundo fontes do Planalto, o governo vai defender o Pix com firmeza. “O povo estará com a gente, porque o Pix é parte da vida dos brasileiros”, disse um auxiliar direto de Lula, destacando a popularidade do sistema, que já movimenta mais do que cartões de débito e transferências via TED.
A adoção acelerada do Pix no Brasil impactou diretamente o setor de cartões, dominado por bandeiras como Visa e Mastercard. Para Daniel Blanck, advogado especialista em direito bancário, o Pix representa uma ameaça ao domínio das empresas americanas no setor. “Sistemas de pagamento são infraestrutura crítica. Se mais países adotarem soluções próprias, os EUA perdem influência global sobre as transações financeiras, hoje centralizadas em torno do dólar.”
O desconforto com o Pix se intensificou com a expansão de funcionalidades como Pix Parcelado, Pix Garantia e Pix Automático, que tornam o sistema ainda mais competitivo. Outra frente de irritação partiu da big tech Meta, após o BC retardar a liberação do WhatsApp Pay e lançar o Pix, que rapidamente se consolidou.
Para a advogada Amanda Athayde, não há base jurídica sólida no questionamento dos EUA. “O Pix ampliou a concorrência num dos mercados mais fechados e caros do mundo”, afirma. Thays Murta, do escritório César Fiuza Advogados, aponta que o modelo brasileiro, por não depender de empresas privadas dos EUA, coloca em xeque o chamado soft power americano.
O Banco Central, que tornou público o código-fonte do Pix, já inspira iniciativas semelhantes em países como Colômbia, Peru, Chile e México. China e Índia também operam soluções nacionais de pagamentos instantâneos.
A Abecs, associação que representa as empresas de cartões, declarou estar acompanhando o caso. Meta e Banco Central optaram por não comentar. Para o governo brasileiro, o real objetivo da ofensiva dos EUA é abrir caminho para a privatização do Pix — uma hipótese que Brasília promete combater.