Pastor Silas Malafaia ataca STF em ato pró-Bolsonaro e reforça domínio político das igrejas evangélicas
Durante manifestação na Avenida Paulista, líder religioso acusa Alexandre de Moraes de “ditador” e “assassino”, critica delação de Mauro Cid e evidencia a instrumentalização da fé para fins políticos, marcada pela teologia da prosperidade e o avanço da bancada evangélica no Congresso

Em mais um ato de apoio, com participação de poucas pessoas, mas com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), realizado neste domingo (29) na Avenida Paulista, em São Paulo, o pastor Silas Malafaia voltou a atacar frontalmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e, em especial, o ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. Do alto de um trio elétrico, Malafaia chamou Moraes de “ditador” e o acusou de ter “sangue nas mãos”, numa retórica que inflamou os manifestantes presentes, que passaram a gritar “assassino, assassino”.
O alvo principal de Malafaia foi a delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, coronel Mauro Cid, cujo conteúdo ele classificou como “fajuto” e parte de uma “armação” do ministro do STF. O pastor argumenta que Moraes estaria usando prisões estratégicas para abafar reportagens críticas, como a da revista Veja, que revelou que Cid teria criado um perfil falso no Instagram para compartilhar detalhes sigilosos do processo com aliados.
Malafaia também voltou a mencionar o caso de Clériston Pereira da Cunha, o “Clezão”, manifestante bolsonarista que morreu na prisão em Brasília em 2023. “Tem sangue nas mãos de Alexandre de Moraes. Ditador, tu vai dar conta a Deus. Clezão era membro da minha igreja”, disse, atribuindo um caráter martirizado à figura do empresário condenado por tentativa de golpe.
Além das críticas ao Judiciário, o pastor criticou a recente decisão do STF que obriga as big techs a removerem conteúdos ilegais sem ordem judicial, classificando a medida como uma “instituição da censura” e um “ataque à liberdade de expressão”.
Malafaia ainda mirou em seus próprios aliados no Congresso, chamando parte da direita brasileira de “prostituta, vagabunda e vendida”. Segundo ele, o motivo de Moraes ainda ocupar uma cadeira no Supremo seria a conivência e omissão de parlamentares da própria base bolsonarista.
Ao longo dos últimos anos, Malafaia tem se destacado como uma das principais lideranças da aliança entre religião e política no Brasil. Em seus discursos, utiliza uma interpretação conservadora do Antigo Testamento para justificar ataques às instituições democráticas e a difusão da chamada teologia da prosperidade — doutrina que associa fé à prosperidade financeira, frequentemente usada para justificar o enriquecimento de pastores em comunidades empobrecidas.
Especialistas alertam que esse tipo de discurso reforça a dominação simbólica das classes mais pobres por líderes religiosos que ocupam cada vez mais espaço no cenário político nacional. A bancada evangélica, que cresce a cada eleição, atua ativamente no Congresso em pautas ultraconservadoras, frequentemente ligadas a interesses de igrejas e à perpetuação de narrativas religiosas distorcidas para fins de poder.
O evento deste domingo reforça o papel das igrejas evangélicas na radicalização do discurso político, combinando retórica religiosa, ataques às instituições democráticas e desinformação para consolidar poder e influência. Para analistas, trata-se de uma nova forma de dominação social baseada na fé e no medo, com sérias consequências para o Estado laico e para a democracia brasileira.