Haddad critica juros altos e diz que decisão é “herança de Campos Neto”; governo mira crédito e controle de gastos
Ministro da Fazenda atribui alta da Selic a decisões anteriores do BC e defende foco em sustentabilidade fiscal; MP busca aumentar arrecadação, enquanto governo estuda estímulo ao crédito imobiliário

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (24) que a decisão recente do Banco Central de elevar a taxa Selic para 15% é resultado de um direcionamento tomado ainda sob a gestão de Roberto Campos Neto, ex-presidente da autarquia. Em entrevista à Record News, Haddad disse que a alta dos juros “foi contratada” na última reunião presidida por Campos Neto, em dezembro, e que mudanças bruscas na política monetária comprometeriam a credibilidade do BC.
“O Brasil precisa encontrar o caminho da sustentabilidade das contas públicas. A elevação de despesas só viria em caso de emergência. Quanto mais poupança fizermos, mais chance o país tem de crescer de forma sustentada”, afirmou o ministro.
Desde que Gabriel Galípolo assumiu a presidência do BC, a Selic subiu em todas as quatro reuniões do Copom (janeiro, março, maio e junho), totalizando uma alta de 2,75 pontos percentuais.
Paralelamente, o governo federal publicou uma Medida Provisória neste mês para reforçar a arrecadação, incluindo o aumento da taxação sobre apostas esportivas e alterações na tributação de instituições financeiras. A medida busca compensar o recuo na alta do IOF, que teve novo decreto publicado com reajuste menor do que o anteriormente previsto.
Apesar das críticas do mercado quanto ao controle das despesas, Haddad demonstrou otimismo sobre um acordo no Congresso. “Briga, discute, diverge, mas há um espírito de responsabilidade nacional que nos permite avançar”, disse.
O relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, divulgado também nesta terça, projeta um déficit primário de R$ 83,1 bilhões ao fim de 2025, dentro da meta fiscal definida pelo governo.
Haddad confirmou ainda que o governo Lula estuda medidas para estimular o crédito imobiliário, setor que representa apenas 10% do PIB brasileiro. “Temos uma avenida para percorrer”, disse, citando reuniões com o presidente para desenvolver garantias e juros mais baixos que alavanquem a indústria da construção civil, considerada estratégica para o crescimento do país.