A cronologia da operação de ontem no Complexo do Alemão indica que as 17 mortes de civis ocorreram como vingança das tropas policiais pela morte do cabo da PM Bruno de Paula Costa. O governador Cláudio Castro (PL) e os comandos das polícias Civil e Militar defenderam a atuação dos agentes. De acordo com registro de ocorrência obtido pelo UOL, Costa foi baleado às 5h39, ainda no início da incursão de homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) nas comunidades do Complexo do Alemão. Lotado na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Nova Brasília, o PM foi ferido gravemente durante um ataque de traficantes à base.
O policial foi socorrido imediatamente e deu entrada já morto no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, às 6h, segundo a unidade. A partir daí, a violência da ação policial se intensificou, segundo relatos de moradores e ativistas que atuam no Complexo do Alemão. Escalada da violência Às 7h, pouco mais de uma hora após o policial ser baleado, o ativista Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto, relatou que policiais estavam invadindo casas de moradores para utilizarem como plataforma de tiros. “Com isso, o medo das pessoas é que a operação mergulhe na ideia de ‘operação vingança’, que acaba inflamando ainda mais a coisa e violando muitos moradores nesse caos”, escreveu ele na ocasião.
Pouco depois, perto das 8h, Letícia Salles, 50, foi baleada dentro de um carro na Estrada do Itararé, um dos acessos ao Alemão. Moradora do Recreio dos Bandeirantes, ela visitava o namorado e estava acompanhada dele e de outro parente. Familiares de Letícia afirmam que um policial atirou contra o veículo.
Por volta das 10h, com as notícias sobre o número de mortos ainda desconhecidas, dezenas de mototaxistas protestaram nos acessos ao complexo de favelas. Apenas no início da tarde corpos começaram a ser retirados por moradores de dentro da comunidade. Cobertos com lençóis, eles foram transportados de maneira improvisada em carros e caminhonetes e levados para a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) do Alemão. Outro dado que corrobora a tese de vingança é o número de armas apreendidas. Apesar de a PM afirmar que 16 homens eram “suspeitos” de envolvimento com o tráfico da região e que foram mortos em confronto com os policiais, a operação terminou com apenas sete armas apreendidas, cinco delas fuzis. Em entrevista à imprensa no fim da tarde de ontem, o subsecretário operacional da Polícia Civil, Ronaldo Oliveira, atribuiu a responsabilidade pelas mortes ao tráfico local. “Infelizmente, eles escolheram atingir os policiais”, disse ele, afirmando também que preferia ter prendido os suspeitos. A PM afirmou, em nota, que policiais foram atacados em vários pontos do Complexo do Alemão. O tenente-coronel Ivan Blaz, porta-voz da corporação, disse que a munição dos policiais do Bope acabou em duas horas de incursão, por conta da intensidade dos confrontos.