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MARGARET RIVER – O ataque do tubarão havaino

Por: Marcos Aurélio Chagas

Em 2018 Margaret River foi palco de dois ataques de tubarão à surfistas locais, os brasileiros Gabriel Medina e Ítalo Ferreira se posicionaram nas redes sociais, alertando que não se sentiam à vontade para treinar e competir naquelas condições, as reclamações ganharam musculatura e a etapa enfim foi cancelada para alivio de muitos, más só os brasileiros admitiram.

Em 2019, Gabriel e Ítalo voltaram como vilões da história, más isso não parece ter abalado a confiança dos caras, embora Gabriel tenha competido mal e perdido muito cedo mais uma vez, o bicampeão surfou muito bem, Ítalo também caiu, mas no dia do terror, em The Box, onde os tubarões talvez causassem menos medo que as ondas, Ítalo mostrou que é o maior “go for it” do circuito, em sua primeira onda surfada no slab, o brasileiro dropou muito pra fora da parede, brigou contra a energia da onda, contra a corrente contraria, contra a bancada sugando a água, más, mais forte que imaginávamos, Ítalo achou um atalho e se jogou pra baixo de uma craca de uns 8 a 9 pés, comum lip imensamente grosso, que poderia inclusive lhe ferir seriamente, se posicionou no trilho, saiu na baforada e fez a onda mais insana de sua vida, só não lhe retribuíram com o devido 10, porque era a primeira onda boa, da primeira bateria do dia, independente da nota que não veio, Ítalo mostrou que realmente é candidato a campeão mundial, passando pelo teste de The Box com muita atitude, eu diria que, se tornando naturalmente o maior candidato a título pelo Brasil depois do bicampeão Gabriel Medina.

Italo Ferreira (Foto: Matt Dunbar / WSL via Getty Images)

The Box é um drop, um tubo, um sorriso ou um pesadelo, tudo isso no extinto, se o cara pensar ele vaca, vimos o sorriso exalando em Jack Robson, o pesadelo assombrar Jadson e principalmente Leonardo Fioravanti, o italiano machucou mais uma vez o ombro que já havia machucado no começo da temporada, que o tirou inclusive da Gold Coast, não se sabe a seriedade, más os indícios são de que ele ficará de fora por algumas etapas, aguardemos torcendo por sua melhora.The Box mostrou o melhor e o pior de cada atleta, Gabriel, mesmo perdendo passaria oito das dezesseis baterias do R32, venceria JJF, Kelly, Julian, Bourez, Conner, Seth e Kolohe com certa folga, Caio mostrou que além de muita borda, sabe entubar mesmo que a onda seja um transformers, Owen mais uma vez dominou “A Caixa”, mesmo quando ela vinha trepidante e desgovernada, Jeremy entende de tubos, más não de The Box, Filipe precisa de menos Tresstles com 3 pés e mais ondas quadradas de 8 pés, qualquer “bode velho” o venceria, pior que sua apresentação em The Box só a de Michael Rodrigues, que, para não sair em branco fez dois drops retoside, visando perder com alguma pouca pontuação, já o Jack Robinson mostrou que conhecimento local pode superar talento seletivo, o australiano impôs ao atleta que mais impõe combinação aos adversários uma situação inusitada, Filipe foi atropelado por 18,57 pontos, somando irrisórios 6.73, não lembro do brasileiro saindo de uma Kombi, se a competição continuasse em The Box, ninguém venceria o Jack Robinson, assim como os tubarões, ele estava em seu habitat natural, as câmeras HD flagravam seus sorrisos, que eram grandes ou ainda maior, sempre compatível com o volume das massas d´agua que ele remava,  era visível, ninguém estava mais à vontade que o aussie, volto a repetir, ninguém o venceria se a competição continuasse em The Box.

Mais belo que o surfe do Jack Robinson foi a interferência dos golfinhos no Conner Coffin, uma das cenas mais belas desse ano, além dos golfinhos, Conner mostrou muita atitude, passou por um Jessé que, embora tenha feito um 6.83, ficou devendo a segunda nota, Jessé precisa urgentemente de uma mudança de rumo, com um talento exacerbado, o surfista do Guarujá ainda não conseguiu nenhum resultado significativo em um ano e meio de circuito, ele precisa parar, se estudar e reagir, surfe não lhe falta.

Depois de três descartes o Julian voltou a fazer uma boa competição, mesmo que, discretamente. Chegou a semifinal, mas, ao contrário de Gabriel, surfou mal e foi passando, de repente, terceira colocação para o jovem veterano.

Caio Ibelli (Foto: Kelly Cestari / WSL via Getty Images)

Caio Ibelli mostrou que quando o mar sobe, seu surfe acompanha, em The Box ele estava solto, muito solto, completamente solto, absurdamente solto contra um bicampeão mundial, e a aberração que é aquela onda, Caio pegava uma atrás da outra enquanto Gabriel mais uma vez boiava com a prioridade na mão, prioridade tem se tornado uma maldição para ele, embora tenha feito a melhor nota do confronto, um 7.83, Medina perdeu tempo demais esperando uma onda perfeita em um slab, quando viu que já não dava mais para esperar, só conseguiu mais uma onda que lhe rendeu uma nota mediana. Repetimos, embora tenha competido mal, Gabriel surfou bem, venceria metade das baterias do dia, inclusive contra o virtual campeão JJF, más, essas suposições não conseguem camuflar a realidade, nesse momento ele está fora dos top 10 e também das olimpíadas, ano passado lhe dissemos, obrigado Gabriel, agora é a hora do ACORDA GABRIEL.

Já Caio, bem acordado, depois de vencer o champ passou pelo unodecachamp, Kelly abriu com muita velocidade, mas na finalização deu sinais que faltou força para segurar o lip, foi o que ele fez de melhor, daí em diante Caio rasgou “de frontside” todas as chances de Kelly, surfando as maiores com power, flow e segurança,  nada como um dia atrás do outro, no dia anterior Kelly brincou com Caio em seu story no Instagram, em mais uma tentativa de desestabilização psicológica de seu adversário, na bateria, Caio brincou com Kelly, fazendo um belo surf de borda e impondo ao “King” uma derrota amarga, já que, depois de Keramas Kelly parecia ter recuperado sua habitual confiança, e mais, Caio tirou da competição quem lhe tirou do circuito, estamos ansiosos para as cenas dos próximos capítulos.

No caminho de Caio só tinha campeões e potenciais campeões, depois de vencer Gabriel pela primeira vez na divisão de elite, impor a Kelly uma derrota que estava atravessada em sua garganta, Caio despachou Jordy Smith, seu algoz na final de Bells em 2017, em Margaret River o ano passado Caio se machucou e viveu de lá para cá um verdadeiro inferno astral, esse ano, na mesma Margaret, ele conseguiu vencer todos os obstáculos em uma demonstração de superação  que o levou a semifinal, dando e ele um lugar ao sol, e provavelmente o levará também à Saquarema, seu segundo sol, e, quando o segundo sol chegar, certamente ele irá realinhar as orbitas de seu planeta, Caio é surfista de elite, mesmo que Kelly impeça.

Para não gastar todo seu estoque de sangue no olho e superação, quis os deuses do Indico que Caio perdesse por uma diferença pequena para um antigo freguês, um cara que merece um capítulo à parte, John John Florence, o surfe perfeito para a onda de Margaret River.

John John Florence (Foto: Kelly Cestari / WSL via Getty Images)

John John é um daqueles caras que nos irrita, como pode o surfe parecer algo tão fácil? Olhar John John surfar e entender a grandeza de seu surfe não é tarefa fácil, confesso que por muito tempo achava seu surfe algo meio preguiçoso, em 2012, no postinho, assistir da areia sua primeira vitória na elite contra o estiloso Parko, não entendia como ele chegara tão longe, más daí em diante passei a observar menos o seu estilo “bracinho colado no corpo”, e mais o power de suas manobras, que, muitas vezes são maquiadas pela falta de braços na cena estética, definitivamente o surfe de John John nos engana, e, nunca é para mais, sempre para menos, somando a isso a nossa incapacidade de aceitar derrotas, o havaiano é um prato cheio para o banquete dos mi-mi-mis de quem acha que temos que vencer tudo o tempo todo.

Em 2019 John John não foi absoluto em Margaret como foi em 2017, em The Box foi mediano, sua somatória o condenava a uma derrota inclusive contra Gabriel, más ele encontou um Jack Freestone meio Kamikaze pelo meio do caminho e passou bem, contra Ítalo foi estratégico, domou seu adversário direto na briga pela lycra amarela, contra Caio passou apertado, 14.60 vs 14.10, como o havaiano conhece Margaret melhor que os outros, ele fazia a segunda manobra sempre passando, para conseguir finalizar com expressão na terceira,  já Caio invertia sempre na segunda e perdia o “time” nas finalizações, com esse pequeno detalhe estratégico na manga, John John avançou para a final, sobrando contra Kolohe, vencendo a etapa sem nenhuma margem para subjetividade ou críticas embasadas em fanatismo.

John John voltou diferente, logo na primeira etapa do ano ele assumiu que queria ser tricampeão, algo impensável no passado, mudou a postura fora e dentro d´agua, na semifinal contra Caio, logo em sua primeira onda, ao voltar para o outside ele disputou remada a remada com o brasileiro, dando braçada no Caio e vencendo a disputa pela prioridade, quero ver se agora o Ezikiel Lau vai ter atitude para “torturar o galego psicologicamente” como fez ano passado, se tentar vai dar ruim pra ele, John John voltou “coisado”.

Com a segunda vitória de John John na quarta parada do tour, o bicampeão havaiano coloca quinze mil pontos de diferença no ranking sobre o bicampeão brasileiro, deixando o tri mais perto dele, em Margaret River, os tubarões brancos deram lugar ao tubarão havaiano e ele mordeu.

Saquarema começa dia 20 de junho e todos os secadores estarão ligados, Ítalo, Filipe e sobretudo Gabriel precisam reagir, é importante lembrar que o líder tem duas vitórias no Rio, se derem espaço ele vai lá e faz a terceira vitória, no Rio e no ano, se derem um pouquinho mais de espaço ele conquista o tricampeonato com antecedência, nesse momento só Kolohe, Ítalo e Kanoa tem chances de tirar a lycra amarela dele, mesmo assim, com poucas probabilidades de realmente acontecer, já que, ele sobra com seis mil pontos à frente do vice-líder, em apenas quatro etapas.

O Rio é o futuro, John John a realidade, os brasileiros precisam reagir, caso o havaiano vença, a esperança pode virar passado.

Curta, comente, compartilhe, critique, debata, o Rio vem aí, John John também.

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