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Banco Econômico entre o público e o privado.

Por Vinicius Jacob
Nas primeiras décadas do século 19, Salvador caminhava a passos lentos e trôpegos em direção ao sistema capitalista. Seus principais produtos de exportação eram o açúcar, o fumo e o cacau, este último em menor escala, e muito dependente da mão de obra escravizada. A velha capital da Bahia era uma cidade eminentemente comercial e muito pouco industrializada.
Aqui tudo se vendia e trocava, favorecendo em muito o acumulo de capital entre seus comerciantes. Foi neste contexto de desorganização econômica e pouca credibilidade nas moedas, principalmente no papel moeda que nasceram as primeiras casas bancarias para aluguel de dinheiro, e dentre elas a Caixa Econômica da Cidade da Bahia, primeiro nome daquele que seria conhecido futuramente como Banco Econômico.
Fundado em julho de 1834 por 171 homens bons, isto é, por pessoas influentes econômica e politicamente na província, a Caixa Econômica da Cidade da Bahia, embora fosse uma instituição privada, nasceu categoricamente dentro do estado, tendo sua agencia na ala térrea do palácio do governador, fato esse, que dadas as incertezas econômicas da época, certamente ajudou a lastrear seus créditos.
Se o império foi um pai para o Banco Econômico, a república tornou-se sua mãe amorosa e provedora, quando o governador Manuel Vitorino Pereira em 1889, afilhado político do todo poderoso senador Rui Barbosa, então ministro da fazenda, transferiu a velha agencia que sempre funcionou no térreo do palácio do governador, para a Tesouraria Geral do Estado.
Enquanto outras casas bancarias quebravam nas incertezas econômicas, o Banco Econômico ficava mais forte e robusto, pois a coisa pública sustentava as incertezas do privado, naquilo que chamo de Liberalismo a Brasileira. Sua robustez foi tão evidente que o banco mudou sua sede para as dependências da poderosa Associação Comercial da Bahia.
Em 1924, após ferrenhas disputas políticas entre facções pelo governo do estado da Bahia envolvendo o grupo de J.J. Seabra e os liderados do finado senador Rui Barbosa, morto em 1923, parte da elite política resolveu aparar as arestas desta disputa, chamando para a cena política o banqueiro e presidente do Banco Econômico, Francisco Marques de Góes Calmon, que foi eleito governador da Bahia.
Após 90 anos da sua fundação, um presidente do Banco Econômico assumiu administração do estado da Bahia, começando assim, a ascensão da casa bancaria, que no passado, em 1834 surgiu como locadora de dinheiro, vindo a tornar-se a 8ª corporação no ranking dos bancos privados do Brasil.
No comando do Estado da Bahia, o banqueiro Góes Calmon, como era se se esperar, fazendo seu sucessor na administração do estado, o também banqueiro Vital Soares, que governou a Bahia por dois anos (1928-1930), sendo lançado candidato à vice-presidência da república, na chapa do candidato a presidente Júlio Prestes, ambos vitoriosos nessa eleição de 1930.
Ter um de seus “homens” na vice-presidência da república, seria uma oportunidade única para um pequeno banco que tinhas poucas agencias na Bahia, crescer nacionalmente, porém, a Revolução de 1930 freou tal ambição, e os candidatos eleitos não tomaram posse. Em todo o período getulista, diretores do banco, inclusive Góes Calmon foram processados e acusados de realizar negócios lesivos ao estado.
Passada a era Vargas, o jogo de poder mudou de mãos, e os negócios voltaram a florescer com novas agencias inauguradas no interior, bem como nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, iniciando assim uma nova era de prosperidade e investimentos.
Mas foi nos anos de Ditadura Militar iniciada em 1964, que o branco se consolidou definitivamente no mercado financeiro brasileiro. Tudo conspirava a seu favor. Diretores e ex presidente do banco, exercendo postos chaves no governo federal, inflação alta, taxas de juros assustadoras, rolagem da dívida pública, tudo isso era o verdadeiro mamão com mel para as instituições bancarias, e o banco econômico não ficou atrás. Durante as décadas de 1960, 70 e 80 a especulação era a regra do jogo financeiro.
Com robustez e capital, o banco financiou obras públicas e dezenas de empresas no setor financeiro e industrial, destacando importantes fabricas no Polo Petroquímico de Camaçari, a exemplo da COPENE, da POLITENO, dentre outras, somando um total de 40. O banco que tinha a cara da Bahia, agora pousava entre as 8 maiores instituições financeiras do Brasil.
Mas com toda essa gama de investimentos, alguns negócios foram frustrantes, levando prejuízos aos seus acionistas. Um dos exemplos mais conhecidos, foi a tentativa de compra de ações supervalorizadas do Banco da Bahia, de propriedade do banqueiro Clemente Mariani, levando o Econômico a um prejuízo de quase 800 milhões de cruzeiros. Mais uma vez o poder público e político interferiu no processo, minimizando bastante as perdas.
Má gestão, negócios pouco explicados e o fim do apoio político, com a implementação do Plano Real em 1994, levaram a insolvência a mais antiga casa bancaria brasileira. Após 161 anos de existência, no dia 12 de agosto de 1995, a Bahia acordou com a notícia da intervenção do Banco Central no Banco Econômico, deixando atônitos 1 milhão de depositantes, 9.500 funcionários e mais de 70 mil pequenos acionistas que ficaram a ver navios.
Parafraseando o ministro da fazenda do presidente João Goulart, Santiago Dantas, “no Brasil costuma-se privatizar os lucros e socializar os prejuízos”.
Vinicius Jacob, professor, pesquisador, especialista em História da Bahia

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