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Felipe Toledo – Mister Brasil

Por: Marcos Aurélio Chagas (@marcosaurelioc )

A etapa do Brasil começou na praia de Itaúna com um cenário completamente diferente do ano passado, em um ano que ele, o havaiano John John Florence tinha tudo para ser a presa, em virtude de estar voltando de uma séria lesão, o galego havaiano, líder de uma safra de havaianos legais, chegou em terras tupiniquins com seis mil pontos de vantagem para o vice-líder Kolohe Andino, e, em uma competição particular pela conquista do terceiro título mundial, o havaiano chegou com quinze mil pontos de vantagem para o outro bicampeão, o brasileiro Gabriel Medina, resumindo, a presa virou o predador e dificilmente alguém terá fogo para queimar a gordura adquirida, Filipe mostrou força vencendo pela terceira vez no Rio, diminuiu a diferença para cinco mil pontos, más Gabriel, mesmo que acorde, provavelmente já será tarde, porque, para tirar essa gordura, é preciso John John hibernar.

Até alguns regulares confessaram que estavam ansiosos para chegar ao Brasil, todos queriam surfar esquerdas, os primeiros rounds aconteceram em Itaúna, onde, embora ajam direitas, a esquerda é a onda que abre, regulares e sobretudo os goofys mataram a abstinência, por pouco tempo, enquanto eles surfavam Itaúna o novo comissário Pat O`Connell, que, ao contrário do Kieren Parrow em momento nenhum apareceu na tela, estava na Barrinha com seu amigo e contemporâneo da geração “momentum” Kelly Slater, surfando e adquirindo bagagem para convencer a direção do evento a transferir a competição para a Barrinha, dito e feito, a competição foi transferida.

Antes de tudo é importante dizer que a Barrinha quando quebra clássica como aconteceu no ano passado, é uma onda muito melhor que Itaúna, com parede mais definida, lip mais grosso e tubos desafiadores, más esse ano, embora tivesse alguns “poucos” tubos, não foi nem de longe algo próximo do ano passado, me pareceu que o Kelly estava fazendo mais um movimento para intervir no fluxo natural da competição e transferir o campeonato para a as direitas, afinal, lá ele teria bem mais chances contra Filipe do que na manobrável Itaúna.

É importante falar também que o Careca mexe os pauzinhos dentro da WSL e também com os Deuses dos oceanos, sua conexão com Netuno é direta, sem intermediários, afinal com a competição na Barrinha, ele pegou um tubo insano e dropou cracas absurdas, Filipe fez o mesmo, só que, diferente de Kelly consegui fazer a segunda onda, passando a bateria, tornando todo o esforço do Kelly para mudar a competição em vão, e, em uma vitória pessoal se vingou das duas derrotas sofridas para o careca nos últimos dois confrontos, e mais, provavelmente proporcionou a Kelly sua última bateria em aguas tupiniquins como competidor da elite, más, passado a bateria entre o filho de Netuno e o filho do Ricardinho, quem surfou na Barrinha, teve que se contentar com aéreos, carvins e tubos espremidos, tudo isso poderia ter ocorrido em Itaúna, só que, com mais opções para os atletas, com esquerdas.

O sábado terminou na Barrinha sem grandes confrontos, a última bateria foi entre Gabriel Medina e Michel Bourez,  assim como todas as outras do round, bem morninha, Gabriel é um capitulo a parte nesse texto, falemos dele mais para frente, o domingo amanheceu e a WSL continuou com a competição na Barrinha, em condições bem merrequeiras, Filipe passou por Kanoa Igarashi nas quartas, o japonês é um atleta em franca evolução, más Filipe não deu chances, assim também foi com o português Frederico Moraes e na final contra o sul africano Jordy Smith, que, na bateria anterior, tinha feito um score altíssimo contra o vice líder Kolohe Andino.

É Fato, Felipe ainda precisa evoluir em ondas ovais, más em rampas de até seis pés, sobretudo para a direita, ele é praticamente imbatível, ele vai crescendo nas fases finais de maneira assustadora, ao chegar na final ele é quase imbatível, em Saquarema ele fez 18,04 pontos de 20 possíveis contra o campeão da etapa em 2013, Filipe foi absoluto, venceu no Brasil pela terceira vez, se tornando o Mr. Brasil de sua geração, dividindo esse título com nomes como Dave Macaulay que venceu quatro campeonatos, além de Kelly Slater e Taj Burrow vencedores de três competições, com essa vitória Filipe diminui sua diferença para o líder John John Florence para cinco mil pontos, é uma diferença grande, más nada impossível.

Falando de John John, ele está solto, muito solto, soltão, no R16 ele arriscou vários aéreos, em um deles sentiu uma fisgada no joelho operado e optou em sair da bateria, mesmo saindo da água quinze minutos antes do confronto acabar, seu adversário o vice-campeão da etapa em 2018, Wade Carmichael, passou todo esse tempo sozinho no line up e não conseguiu fazer os 6.51 pontos necessários para virar a bateria, John John está em uma fase tão absurda que vence até fora d’água.

Ítalo não se encontrou, tão importante quanto a atitude que lhe sobra, é a inteligência competitiva que por horas lhe falta, ele deixou isso claro em Bells, em Saquarema não conseguiu ler o momento do mar, insistiu em uma prancha pequena, derrapou nas cracas, brigou com a onda quando conseguiu ficar em pé, tentou aéreos quando uma boa batida ou layback lhe dariam um notão, talvez não tenha tentado essas manobras porque não estava com prancha para segurar a pressão das ondas de Itaúna, insistiu com a mesma prancha, ao mesmo tempo que Michael Rodrigues “em outra bateria” saia da agua para trocar de equipamento e vencer seu confronto, já o português Frederico Moraes, adversário de Ítalo, surfou ondas intermediárias verticalizando muito de backside, Ítalo  competiu mal, o gajo agradece, ora pois!

Quando Ítalo conseguir equilibrar suas competências, será campeão.

Equilibrar as competências traz evolução, e isso tem acontecido com alguns caras esse ano, Kolohe Andino, Kanoa Igarashi são nomes surpreendentes, fazem um ano espetacular, Kolohe ainda reserva desconfianças, aguardemos o decorrer do circuito, já Kanoa tem mostrado que é um operário do surf, sua dedicação e foco fazem lembrar Adriano de Souza, acredito que ele se mantenha entre os top cinco esse ano.

Jordy Smith, faz um início de ano consistente, condizente com seu surf, o segundo semestre é seu calcanhar de Aquiles, más aos 31 anos e sem nenhum título ainda, talvez esse seja um ano de virada de mesa para o africano, ele está na contagem regressiva da boa forma.

Adriano de Souza voltou tão Capitão Nascimento quanto antes, surfou bem, competiu bem, parou no campeão Filipe Toledo nas fases iniciais, não conseguiu encontrar seu backup wave, vai ser interessante vê-lo em J-Bay, Adriano promete.

Gabriel Medina declarou preferir Itaúna, más existe algo que não se pode esconder, seu backside é muito melhor que seu frontside de manobra, ele passou as duas baterias em Itaúna surfando como um surfista comum, não leu bem as ondas, errava sempre no lip, tentando manobras progressivas em lips esfarelados, contra Jadson fez um surf burocrático, suficiente para passar, contudo mais uma vez competiu mal, faltando sete minutos e com a prioridade na mão, o paulista deixou Jadson ir na onda com a parede mais limpa da bateria, o potiguar entrou em meio a espuma, negociou com ela até alcançar a parede, adiantou com velocidade para invadir com faca nos dentes e a boia Lampião completamente no pé, uma junção revolta e desgovernada que vinha na direção contrária, empurrando o pé de trás com muito estilo, como reconhecimento de sua atitude, a natureza conduziu sua rebeldia até a base, na base, Jadson continuou de pé, em uma demonstração perfeita que a guerra entre a força humana e a da natureza, pode criar momentos lindos de pura sincronia, que aos olhos de quem vê, evolui para o show, Jadson e Saquarema ofertaram isso nesse encontro, mas esse momento único na bateria, não resultou em vitória, Gabriel foi mais mediano.

Já Gabriel, mesmo surfando na média passou a bateria, em sua melhor onda ele encheu a esquerda de batidas e rasgadas, abusando do direito de usar o fundo da prancha, ainda bem que as esquerdas do tour são em sua maioria de tubos, é preciso dizer mais uma vez, o frontside do champ não está nem próximo de seu backside, se existe um fundamento no surf que Gabriel ainda precisa evoluir é high performance surfando de front, será que alguém já disse isso a ele?

Contra Kolohe, Gabriel parecia dominar a bateria com uma somatória frágil, abriu com um full rotation baixo, foi até bem pontuado com um 6.5, fez uma segunda onda com outro aéreo, mais alto, mas a nota veio mais baixa, tive a impressão que tentaram compensar a primeira onda, más, Kolohe que tem surfado com bastante inteligência, fez na última onda três manobras grandes, virando a bateria com um 7.33, Kolohe avançou e Gabriel continua sem um resultado expressivo esse ano.

Observando as performances de Gabriel aqui no Brasil, parece que ele sofre a síndrome de Filipe, é o lugar onde ele mais perde baterias bobas, sempre insistindo e abusando do direito de perder aéreos, parece que ele se sente na obrigação de dar show, em 2018 ele errou treze aéreos em Saquarema, esse ano não contei, mas só na bateria com o Kolohe foram dois, os anos passam, os mesmos erros persistem, fica claro que, quando ele vence é o dom se impondo, quando ele perde, fica evidente que faltam correções simples, um bom técnico talvez resolvesse.

O tempo corre o circuito também, com menos uma etapa para o final, o bicampeão brasileiro não conseguiu tirar nenhum ponto de gordura do líder John John Florence, parece que o tri vem por aí, más ao menos esse ano, não deve ser nosso.

Saquarema esse ano teve um astral único, todos os atletas agradeciam a receptividade do público, a energia vinda da praia, o envolvimento fervoroso com o surf, uma das cenas mais legais de ver foi o final da final feminina, a americana Cortney Colongue que é adversaria da campeã da etapa a australiana Sally Fitzgibbons, na briga pelo título, foi na beira da agua pegar Sally nos ombros e carregar até o palanque, uma cena bonita condizente com todo o espetáculo que o público deu durante os quatro dias de evento.

O Rio foi para conta, esse ano a janela foi a menor de todas as etapas, a WSL insistiu em manter no dia final a competição em uma direita, as series demoravam bastante, as ondas curtas, a maioria sem tubos, más para nossa “alegria” vem ai J-bay, outra direita, rs, com John John sobrando e mais líder do que nunca, tendo como missão parar um cara chamado Filipe Toledo, com um leão tatuado no peito e vencedor das duas últimas competição em J-bay, enquanto a maioria no mundo preferem o tubarão havaiano, o leão é a nossa maior esperança,  J-Bay  vem ai, Filipe também, façam suas apostas!

 

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