Bahia

Chuvas e Desabamentos, Salvador sempre foi uma Tragédia Anunciada por Vinicius Jacob

Chuvas e tragédias sempre andaram de mãos dadas e marcaram a história da cidade do Salvador ao longo dos seus 469 anos de vida que irá completar agora em 29 de marco. O primeiro registro que a historiografia fez desse fenômeno natural, data de maio 1551, dois anos após a fundação da cidade, quando o mestre responsável pela construção, Luís Dias, relatou que as paredes que tinham acabado de ser feitas, desabaram próximo a Porta de Santa Catarina, na entrada norte da cidade, parte dos fundos da atual prefeitura do Salvador, ruindo sobre a ladeira da montanha.

Quanto mais a cidade se expandia, maior era o número de tragédias registradas. Os registros eram de desabamento de encostas, destruição de casas e pessoas soterradas e mortas. Entres os inúmeros desastres ocorridos no século XVIII, um ficou particularmente na memória dos habitantes da metrópole soteropolitana. Em junho de 1797, os alicerces da antiga igreja de São Pedro dos Clérigos ruíram, provocado um terrível acidente. Esse episódio, além de destruir diversas casas localizadas na ladeira da Misericórdia, matou dezenas de pessoas.

A cidade ruía com as chuvas torrenciais que volta e meia desabavam. A tensão dos moradores e autoridades era tão grande que o governador da Bahia, à época, Dom Marcos de Noronha e Brito, 8º Conde dos Arcos, determinou a elaboração de um plano para a mudança territorial de Salvador, tendo como objetivo a criação de uma nova metrópole na Península de Itapagipe. Ele tomou essa decisão após um gigantesco deslizamento de terras, ocorrido na Cruz do Pascoal, atual bairro do Santo Antônio Além do Carmo, isso em julho de 1813, quando dezenas de pessoas morreram soterradas, além dos prejuízos materiais.

Quanto mais a cidade se expandia próximo ao centro histórico, bem como, para regiões mais ao norte e nordeste, como Pirajá, Campinas, Largo do Tanque, mais se tornavam frequentes os desastres causados pelas chuvas. Quanto mais a população crescia, estimulada pelas correntes migratórias vindas do interior, fugindo da seca do sertão baiano, crescia também o desordenamento urbano.

Salvador do século XX vivenciou grandes tragédias causadas pela desordem das ocupações urbanas. Os mais antigos devem se lembrar de quão trágicos eram os acidentes, como o ocorrido no fatídico 23 de maio de 1966, na região da Vasco da Gama, onde dezenas de vidas foram ceifadas.

Em 1968, outra tragédia aconteceu, dessa vez, um terrível deslizamento na Baixa do Fiscal, onde mais de 70 pessoas morreram. Bastava uma chuva forte que a tragédia era dada como certa. Em 1971, o prefeito de Salvador, Cleriston Andrade, decretou estado de calamidade pública por 30 dias, quando foram registradas104 mortes, duas mil pessoas feridas e mais de sete mil pessoas desabrigadas.  Passados mais de quatro século e meio, Salvador e seu povo, infelizmente ainda convive com esse tipo de medo.

Vinícius Jacob é professor e pesquisador

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