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O Banqueiro Comunista por Vinicius Jacob

Por Vinícius Jacob

João Falcão foi uma daquelas personalidades baianas que, embora desconhecida por grande parte da população, marcou profundamente a História da Bahia e principalmente, a consolidação do Partido Comunista Brasileiro. Tive o prazer de entrevistá-lo anos atrás em sua residência, diga de passagem, um prédio de luxo que carrega também seu nome e que foi construído pela sua construtora.

Foi a esse encontro com uma pergunta formulada, em meio a tantas que faria naquela dia. Comecei perguntando “Como um militante comunista, que chegou a chefiar a célula que fazia a proteção do principal líder comunista brasileiro, Luís Carlos Prestes, se tornou um banqueiro e um empresário de sucesso”?

Sorridente e com um brilho no olhar, João respondeu de forma simples, porém convicto, que o amor pela ideologia, e principalmente, a luta por justiça social o fez abandonar o comodismo que o capitalismo proporcionaria, para juntos aos demais companheiros, escolher a luta por justiça. Filho de um rico empresário e comerciante da região de Feira de Santana, João Marinho Falcão, conheceu quando ainda jovem estudante secundarista, o Partido Comunista, ambiente no qual mergulhou com profundidade, tornando-se uma das peças fundamentais da agremiação partidária.

Sua vibração era tanta, que em 1941, quando o Partido Comunista estava fechado pela ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, estando Falcão com apenas 21 anos, foi convidado pela cúpula comunista para reorganizar o partido no nordeste, esfacelado após a intentona comunista de 1935.

Para burlar as terríveis perseguições, criou um “Jazz Acadêmico”, isto é, um grupo musical, que percorreu em caravana as principais capitais nordestinas. Enquanto o show rolava, eles e demais militantes se reuniam com membros locais do partido, enganando assim todo o aparato repressivo, e o que é mais engraçam, tudo isso com apoio financeiro do estados e seus prepostos interventores.

Paralelo a vida de militante comunista, João Falcão assumiu, a pedido do pai e posteriormente da família, atividades empresariais. Foi diretor da Empresa de Carnes Verdes da Bahia, a maior do estado, empresário do ramo imobiliário e banqueiro. Disputou uma vaga a câmara federal pelo PCB e pelo Partido Trabalhista Brasileiro em dois momentos distintos, porem só conseguiu a suplência.

Em 1958, fundou o Jornal da Bahia, periódico que se tornou referência em inovações tecnológicas e de jornalismo independente.  Esse fato revolucionou a imprensa baiana. Após o golpe militar e civil de 1964, o jornal continuou mantendo sua linha editorial, opinando contra o regime, fato esse que o fez perseguido pelo sistema e seu principal representante na Bahia, o governador Antônio Carlos Magalhães que suspendeu todo e qualquer tipo de publicidade oficial, além de pressionar empresários a não anunciarem.  Para fazer frente a esse movimento, foi criado o slogan “Não deixe esta chama se apagar”, mobilizando parte significativa da sociedade baiana que não queria o fechamento do jornal. João Falcão dirigiu o Jornal da Bahia até o ano de 1983, quando foi definitivamente vendido.

Vinicius Jacob é professor e pesquisador

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