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Os NOVOS CAPITÃES DE AREIA – Gerações perdidas

Capitães de Areia foi uma obra literária do escritor Jorge Amado, que ficou na memória de muitos baianos. Esse livro relata a realidade de uma cidade forjada na desigualdade social, séculos de escravidão e uma explosão demográfica sem precedentes, ocorrida principalmente no segundo quartel do século XX, fruto da seca no sertão nordestino, e as levas de migrantes vindas para Salvador da Baia de Todos os Santos. Essa obra é ainda um retrato fiel do racismo institucional, observado e relatado pelo escritor em 1937.

Meninos no cais do porto de Salvador, assim eram chamados esses pequenos atores sociais enjeitados, esquecidos e porque não dizer, invisíveis no cotidiano de uma cidade violenta, hostil e desigual. Ingênuos e ferozes, lutavam para sobreviver às intempéries e desajustes de uma sociedade que os tinha, tem e infelizmente os terá como seres ocultos.

Quem teve a oportunidade de ler o livro Capitães de Areia, deve guardar a lembrança do garoto manco, apelidado de “Sem-Pernas”, dissimulado que trabalhava como espião de criminosos. Pois bem, esses espiões estão aí até hoje nas favelas e guetos da velha capital da Bahia.

Esses meninos e até meninas, monitoram as entradas e saídas de seus bairros e ruas, usando para isso as novas tecnologias como o “zap-zap”, ganhando míseros 20, 30, 40 reais. Essa “pivetada” de forma inconsciente, diria até inconsequente, expõe como troféus armas e drogas no facebook e instagram, como fosse coisas naturais. Será isso natural?  Esses meninos e meninas são os filhos legítimos de uma nova geração, da geração Z, denominada pela sociologia como World Wide Web ou WWW criada em 1990 por Tim Berners Lee.

Em Grupos criados no whatsapp, zapeiam passando informações das chegadas e saídas da polícia, como também de grupos rivais aos seus enviando mensagens como: “…Monitora ai vei, monitora ai para não sermos surpreendidos pelos home…”, “…fica ligado ai vei com os alemão…”, “a avenida peixe tá uma uva…”. Frases comuns em seu cotidiano sem futuro, sem direção, pois aqueles que os dirigem ou deveriam dirigir, os políticos, estão cegos pela corrupção. Essa é a trágica história de uma parte significativa da geração Z, uma geração perdida que mal sabe pronunciar o alfabeto, pois está assimilada, adotada pelo crime.

Salve Jorge Amado, que ainda na década de 1930 tentou alertar para uma realidade que hoje parece insustentável, incontrolável. Milhares de jovens são brutalmente assassinados enquanto as imunes e impunes autoridades exercem seus podres poderes.

Professor Vinicius Jacob

FOTO: Pierre Verger

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